Hip-hop, educação e consciência

Empreendedorismo

Coletivo Poetas Vivos e o Galpão Cultural levam este movimento social para dentro das comunidades e alcançam jovens e crianças

“São os meus que morrem a cada 23 minutos, é como se tivesse um cronômetro nesses jogos vorazes do Brasil, que só sorteia pretos”, recita a slammer Mikaela Coelho, a Mika

“É o terrorismo lírico revidando e resistindo! Poetas Vivos!”, é assim o grito de resistência do grupo que leva o hip-hop gaúcho para todo o Brasil. Formado por cinco jovens negros de Porto Alegre, o coletivo Poetas Vivos foi criado em 2018, por meio das rodas culturais da capital gaúcha, os slams, ou batalhas de poesia. O objetivo sempre foi o de potencializar e valorizar os jovens. A partir do seu trabalho, o grupo quer trazer inclusão e uma perspectiva diferente da realidade que essas crianças e adolescentes vivem diariamente.

São cinco anos de um trabalho que leva nos seus versos a história do povo negro e as vivências da periferia para dentro das escolas, universidades e espaços públicos. O punho em riste com um lápis na mão, símbolo do grupo, confirma o que trazem as rimas cantadas ou recitadas nos slams. O hip-hop não é só um estilo musical, mas também uma cultura, é promoção de conhecimento.

Tratado como um movimento social, o hip-hop vem dos subúrbios de uma Nova York e uma Chicago dos anos 1970. O surgimento ocorreu pois os bairros periféricos sofriam com a pobreza, o tráfico de drogas, a violência, a ausência de espaços de lazer para as crianças e o racismo.

Ou seja, essa cultura urbana nasceu como forma de resistência. A pesquisadora e socióloga estadunidense Tricia Rose explica que o surgimento do hip-hop deu-se, também, por conta da “destruição” de instituições que deveriam apoiar as comunidades, um abandono do governo.

“Esses grupos – que iniciam os movimentos – formam um novo tipo de família, forjada a partir de um vínculo intercultural que, a exemplo das formações das gangues, promovem isolamento e segurança em um ambiente complexo e inflexível. E, de fato, contribuem para as construções das redes da comunidade que servem de base para os novos movimentos sociais”, escreve a socióloga no trabalho Um estilo que ninguém segura: Política, estilo e a cidade pós-industrial no hip-hop.

As cabeças por trás do Poetas Vivos, os MCs DaNova e Dickel, o Dj Ericão, Felipe Deds e Mariana Marmontel, trabalham em quatro áreas. Na educação, promovem oficinas, intervenções poéticas e palestras em escolas e universidades. Por meio da literatura, trabalham os slams, os saraus, intervenções poéticas e publicações de fanzines e livros. A área musical possibilita o lançamento de sons, videoclipes, shows musicais e realização de eventos. A quarta área, o empreendedorismo, trabalha com o lançamento de roupas e acessórios com lojas parceiras e a venda de livros e fanzines nos bares de Porto Alegre.

Essa ideia de comunidade, trazida por Tricia Rose, é percebida pelo coletivo. “Nós sentimos que nossos projetos estão transformando os sonhos, principalmente da juventude, em realidade. Dentro das escolas e redes sociais, recebemos muitos retornos positivos dos professores e dos alunos, pedindo que voltemos aos espaços. Isso nos deixa de coração quente e inspirados para dar seguimento nesse projeto”, afirmam os integrantes do Poetas Vivos.